Perguntas diante da porta 

São 10h15 da manhã de um sábado. Começa mais um fim de semana tranquilo. Com uma cafeteira meio vazia, tento me interessar por alguma seção do meu jornal matutino. As notas fiscais e recibos da semana aguardam minha atenção. A louça do café ainda está sobre a pia. A campainha toca. 

Ao abrir a porta, dois jovens com camisa branca e gravata o cumprimentam, com um sorriso. Você nunca os viu antes. Mas os reconhece, bem como as suas pastas. Outros membros desta mesma fé o visitaram no passado. Você espera que eles façam as mesmas perguntas a respeito de seus interesses espirituais. Com gentileza tentarão dar-me panfletos que procuram mostrar uma ligação entre os nossos problemas sociais a uma crise espiritual e nacional. Procuram pessoas que se mostrem dispostas a estudar a Bíblia com eles. 

Você não os convida a entrar, mas sente que é difícil mandá-los embora. Percebe que eles já ganharam alguns minutos de seu tempo simplesmente permanecendo à sua porta. Você se questiona se também se disporia a fazer o mesmo por sua fé. Você bateria à porta de estranhos para falar-lhes sobre o futuro, sobre Deus e sobre as suas almas? 

Estes membros de uma fé diferente da sua, fazem exatamente isto. São visitantes tão distintos e têm uma mensagem de advertência sobre as pessoas comuns e normais que vão à igreja. Eles dizem que podem mostrar-lhe de acordo com a sua própria Bíblia, que muito do que estas pessoas de igreja creem é, na realidade, contrário à Bíblia. Afirmam que os cristãos acreditaram em uma mentira. 

E dizem: “Observe este exemplo; a doutrina da igreja sobre a Trindade. Os cristãos adoram o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Porém Moisés, o grande doador da lei, reverenciado pelos judeus, pelos cristãos e da mesma forma pelos muçulmanos, declarou que existe apenas um Deus quando escreveu: “Ouça, ó Israel! O SENHOR, nosso Deus, o SENHOR é único![a] Ame o SENHOR, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de toda a sua força” (Deuteronômio 6:4,5). 

Os seus visitantes lhe perguntam gentilmente: “Como os cristãos podem ser fiéis a Moisés e aos fundamentos do Antigo Testamento se adoram três pessoas distintas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo?” E perguntam: “É possível crer numa doutrina que viola os ensinamentos básicos da Bíblia? Será possível que você aceitou, sem saber, um ensinamento que coloca o seu relacionamento com Deus em perigo?”.

Os visitantes diante de sua porta não são os únicos com uma convicção anti-Trindade. Eles se unem aos judeus, muçulmanos e muitas outras vozes que citam a Bíblia e insistem que todo o que crê na Trindade violou a sagrada Shemá recitada diariamente duas vezes pelos judeus devotos: “Ouça, ó Israel! O SENHOR, nosso Deus, o SENHOR é único!”. 

Os grupos anti-Trinitários insistem que quando falamos de Deus como uma Trindade, nós na realidade estamos estabelecendo três Deuses. Eles declaram acertadamente que a palavra trindade nunca aparece nas Sagradas Escrituras. Mas continuam dizendo que esta ideia de três em um foi transplantada do paganismo grego e romano para o cristianismo. 

Será que eles têm razão? Existe alguma evidência de que este ensinamento originou-se no paganismo? Será que a doutrina de três em um Deus é bíblica? 

É importante o ensino da trindade? 

Os oponentes da doutrina da Trindade fazem afirmações muito sérias. Insistem que todo o que crê em um Trino Deus, está violando o primeiro mandamento de Moisés, no qual o Senhor diz: “Eu sou o SENHOR, seu Deus, que o libertou da terra do Egito, onde você era escravo. “Não tenha outros deuses além de mim”(Êxodo 20:2,3). 

Entretanto, por muitos séculos, os teólogos das igrejas também fizeram sérias afirmações, sustentando a ideia da Trindade. Esta doutrina, segundo os pais da igreja, não é uma questão de filosofia pagã. Não é politeísta. Não é uma questão de semântica. O único verdadeiro e Altíssimo Deus existe em três Pessoas distintas, e segundo os teólogos da igreja, este ensinamento bíblico é de grande importância. 

Católicos, protestantes e linhas ortodoxas da igreja concordam que os ensinos do Novo Testamento de um Trino Deus corroboram uma doutrina firmemente fundamentada nas Escrituras e não na filosofia. E estão de acordo que a Trindade nos mostra, a que ponto a própria existência de Deus está arraigada no gozo de um relacionamento eterno. A Trindade de Deus nos mostra a realidade eterna do Seu amor e o enorme preço que Deus pagou ao dar Seu Filho, como sacrifício por nossos pecados. A Trindade de Deus nos mostra que nossos próprios relacionamentos são importantes para Deus, para o qual os relacionamentos e o amor são fundamentais para a Sua existência. Um Trino Deus nos dá o exemplo de alguém que existe não simplesmente como um só, mas na alegria inefável e na

criatividade de um relacionamento perfeitamente compartilhado. Ao contrário dos muitos deuses guerreiros da religião pagã. Ao contrário também da nossa própria história de relacionamentos rompidos, este Deus sempre é um em Sua mente, coração e ação. 

Todas as principais confissões da Cristandade também concordam que um Trino Deus é consistente com o rastro das evidências do Antigo Testamento para esta mesma doutrina. O Antigo Testamento dá fortes razões para deduzirmos que, embora Deus seja um, Ele não é um Ser solitário. Os escritores do Antigo Testamento usam frequentemente uma linguagem que nos faz pensar numa pluralidade dentro desta unidade. 

Por exemplo, a palavra traduzida “Deus” umas 2.570 vezes no Antigo Testamento, é Elohim — um termo no plural. Em todos os casos, menos em cinco, se refere claramente ao Deus único que é o Criador, o Sustentador e Mestre de tudo. 

Algumas vezes, Deus usou um pronome no plural quando se referia a Si mesmo. Por exemplo, Ele disse: “Façamos o ser humano[a] à nossa imagem; ele será semelhante a nós.” (Gênesis 1:26). Mais tarde, depois que Adão e Eva haviam comido da árvore proibida, Deus disse: “Vejam, agora os seres humanos[a] se tornaram semelhantes a nós, pois conhecem o bem e o mal” (Gênesis 3:22). 

Quando Moisés declarou que Deus é único (Deuteronômio 6:4), ele usou a mesma palavra que havia empregado para descrever o relacionamento de “uma só carne” entre um homem e uma mulher (Gênesis 2:24). A palavra único de Deuteronômio 6:4 definitivamente permite a ideia de uma pluralidade de Pessoas dentro da unidade da Deidade. 

Ambos os Testamentos, portanto, nos dão razão para crer que único pode ser mais do que um. Por estar além da nossa habilidade para compreendê-lo completamente, não é razão para rejeitá-lo, mas para tentar entender tanto quanto seja possível o que Deus tem revelado.