O que é mais importante na maternidade? — Maternidade: presente ou fardo?

Por Tathiana Schulze

 

Muitas mulheres, quando descobrem que estão grávidas, ficam ansiosas por fazer tudo certo e escolher o melhor para o seu bebê. Os questionamentos são muitos: “Será que devo tomar vitaminas durante a gravidez? Que tipo de parto devo escolher? Amamentar ou dar mamadeira? Receber visitas ou esperar até o bebê crescer um pouquinho? Dar vacinas ou não?”. É verdade que as dúvidas não acabam quando o bebê nasce. Ao contrário. As dúvidas continuam durante a infância e a adolescência: “Dar ou não um celular? Deixar sair com os amigos?”, e tantas outras que surgem no dia a dia.

 

Não bastasse tudo o que se passa pela cabeça de uma mãe, existem dezenas de websites e blogs na Internet que garantem dar a cada uma de nós a “receita do sucesso” para a maternidade. Para piorar, todo mundo tem um palpite a dar para uma grávida ou a uma mãe. “Ah, mas você não vai ser uma daquelas mães cheias de frescura, né?”; “Criança precisa comer de tudo, acompanhar o ritmo dos pais”; ou “Você sabe que criança precisa de rotina, né? Nada de sair dando de tudo pra criança, ou levando-a para todos os lugares.”

 

Em meio ao desejo sincero de acertar, diante de tanta informação e a vontade de criar filhos bem-sucedidos, muitas vezes perdemos o foco daquilo que realmente importa e nos perdemos em meio ao que é secundário. Claro que aquilo que fazemos pelos nossos filhos e família é importante, mas a verdade é que o que fazemos é um reflexo do que somos. Embora seja importante buscar informação séria e de qualidade, orar, considerar as opções para tomar algumas decisões práticas com relação aos cuidados com os nossos filhos, não podemos perder o foco daquilo que fomos chamadas para fazer: guiá-los pelo caminho da verdade, ensiná-los diligentemente não apenas por palavras, mas sendo exemplo em tudo.

 

Algumas vezes nos tornamos extremistas discutindo que tipo de alimentação será mais apropriada, se devemos deixar o bebê dormir no berço ou devemos fazê-lo dormir no colo, se eletrônicos devem ou não ser permitidos e por quanto tempo… Porém a verdade é que, mais do que aquilo que fazemos, quem somos é o que verdadeiramente refletirá na vida dos nossos filhos. Métodos podem nos ajudar, mas eles não são um fim em si mesmos.

 

Certo dia, Jesus, conversando com os Seus discípulos, falou sobre isso. Os fariseus, os “sabe-tudo” da época, adoravam se apegar a detalhes e discuti-los até não poder mais, muitas vezes fazendo uma “tempestade em copo d’água” e se esquecendo do que realmente importa: o amor.

 

Num desses encontros, Jesus foi bem claro ao explicar para eles que o que realmente importava, que o que de fato tem poder de contaminar o homem, de estragar uma vida, não são atitudes exteriores, mas sim aquilo que provém do interior, do coração.

 

Tudo que comem passa pelo estômago e vai para o esgoto, mas as palavras vêm do coração, e é isso que os contamina. Pois do coração vêm maus pensamentos, homicídio, adultério, imoralidade sexual, roubo, mentiras e calúnias. São essas coisas que os contaminam. Comer sem lavar as mãos não os contaminará. —MATEUS 15:17-20, KJA

 

A maternidade, assim como o casamento, é uma lupa que aumenta a realidade e traz à tona tantas coisas de nossa vida, que em outra situação não veríamos com tanta clareza. Com amigos e conhecidos podemos esconder os nossos erros e empurrar certas coisas para debaixo do tapete. Já dentro de casa, a história é bem diferente. Aqueles que convivem conosco diariamente nos conhecem sem as nossas máscaras ou falsidades. Podemos impressionar os nossos filhos com palavras ou mantendo certa pose, mas a verdade é que eles percebem quando estamos ensinando ou falando algo que não vivemos, ou que não cremos e quando estamos sendo reais e autênticos. Lembro-me de duas histórias em minha vida que ilustram bem esse ponto.

 

Em certa época do meu casamento, tornei-me extremamente crítica em relação ao meu marido. Não falo isso com orgulho, de modo algum. Eu criticava a rota que ele escolhia para nos levar a determinado lugar; criticava quando ele estava me ajudando com o serviço da casa; reclamava que ele era muito lento.

 

Um dia, mais uma vez, fiz um comentário negativo com ele, reclamando de algo que nem me lembro mais, de tão sem importância que era. Depois de ter despejado minha crítica sobre meu marido, percebi que meu filho, na época com uns 5 aninhos, olhou para mim de modo diferente. Na tentativa de consertar a situação eu disse para ele: “Brincadeirinha”. O meu menino disse com a maior sinceridade de uma criança: “A mamãe é engraçada! Fala as coisas e depois diz que está brincando, mas não está brincando, está dizendo de verdade”. Confesso que poucas vezes em minha vida eu me senti tão envergonhada e convencida de um erro, ao perceber que o meu criticismo não estava passando despercebido pelo meu filho. E não adiantava eu tentar maquiar as minhas atitudes dizendo um “foi brincadeirinha”, depois de uma crítica desnecessária. Eu realmente precisava de uma mudança em meu coração nessa área.

 

Alguns anos se passaram e atravessei uma fase difícil na área de contentamento, de realização pessoal. Tínhamos o plano de um dia nos mudarmos para um local que fosse mais apropriado para os meninos. A casa onde morávamos foi comprada pelo meu marido quando ainda era solteiro e embora fosse uma casa boa, não era a melhor opção para as crianças. A casa era grande por dentro, mas não tínhamos nenhum pedacinho de jardim ou quintal para os meninos brincarem. Toda as vezes que eles queriam brincar fora da casa eu tinha que caminhar com eles até uma área mais segura, no final da rua.

 

Por anos fizemos isso, mas depois de um tempo eu vi a necessidade de mais espaço privativo para eles. Eu sonhava com uma casa que tivesse um grande quintal para plantarmos uma horta, um lugar onde eles pudessem brincar enquanto eu cozinhava ou limpava a casa sem ter de me preocupar com carros passando ou pessoas estranhas. Desejava poder chamar os nossos amigos com os seus filhos e bater papo fazendo um churrasco enquanto as crianças brincavam de bola e subiam nas árvores.

 

Era um desejo bom e oramos por isso, planejamos e começamos a economizar e a nos organizar para podermos fazer a mudança. Foram alguns anos de planejamento e organização para a tão desejada compra da nova casa. Olhávamos casas na Internet, dirigíamos por vizinhanças para onde gostaríamos de nos mudar e sonhávamos com um lugar bem legal para os nossos filhos.

 

O problema é que as coisas não aconteceram como desejávamos e a tal mudança foi adiada várias vezes. O tempo todo eu tentava lembrar a mim mesma que deveria ser grata por tudo o que tinha, em vez de ficar concentrada naquilo que gostaria de mudar. Mas a verdade é que eu fiquei descontente e mais uma vez, percebi que não adianta querer disfarçar a sujeira que estava contaminando meu coração. Meu marido e filhos percebiam o meu descontentamento e quando nos reuníamos para orar antes das refeições, eles oravam pedindo pela casa. Mas não oravam porque era algo importante para eles; oravam porque sabiam que a mamãe queria muito, e isso a faria mais feliz.

 

Acontece que, na mesma época, estávamos ensinando a eles sobre como o nosso contentamento e a nossa alegria não devem depender de circunstâncias perfeitas (FILIPENSES 4:11-13). Por mais que lêssemos os versículos juntos ou conversássemos sobre como não é necessário ter muito e mais brinquedos para ser uma criança feliz, eu me sentia uma verdadeira hipócrita, porque em meu coração eu acreditava e agia de modo contrário, dando a entender que seríamos muito mais felizes depois que nos mudássemos para uma casa nova.

 

Também percebi que, para meus filhos, era mais negativa a minha falta de contentamento do que o fato de estarmos em uma casa que não tinha espaço para eles brincarem. Da mesma maneira que o meu criticismo sobre o meu marido era mais negativo para os meninos do que meu marido fazer algo que talvez não fosse a minha primeira escolha, algo que na minha opinião não era a melhor opção. Por exemplo, os meninos vão dormir às 20h30. Por um tempo eu mantive um programa de rádio sobre maternidade às segundas-feiras e nesses dias, meu marido era quem os colocava para dormir. Ele levava mais tempo para fazer a rotina diária e eu ficava irritada porque os meninos iam para a cama mais tarde e no dia seguinte eles tinham escola. Mas os 30 minutos a menos de sono, na verdade, eram bem menos prejudiciais do que a minha irritação pelo fato de as coisas não saírem exatamente do meu jeito.

 

Não demorou muito tempo até que eu percebesse que a maternidade é uma escola intensiva de tratamento do nosso caráter. Os nossos filhos, convivendo diariamente conosco, percebem, ainda que intuitivamente, desde a tenra idade, quando algo que falamos não é coerente com o que vivemos.

 

E é muito triste quando começamos a observar neles a repetição dos nossos hábitos que não os mais positivos, que não são hábitos construtivos. A Palavra de Deus ensina que, “Acima de todas as coisas, guarde seu coração, pois ele dirige o rumo de sua vida” (PROVÉRBIOS 4:23).

 

Como pais, o que vamos transmitir para a nossa família, para os nossos filhos, para os que estão próximos a nós, não é um conhecimento externo vindo de um website onde lemos algo que nos ensina a receita perfeita para criar filhos de sucesso. O que vamos transmitir é aquilo que está enraizado em nosso coração, aquilo que carregamos em nossa alma, aquilo em que realmente cremos, a perspectiva pela qual vemos a vida, os relacionamentos pessoais e o mundo.

 

O que transmitiremos é o que verdadeiramente somos. Por isso, precisamos ouvir atentamente o conselho de Provérbios e guardar o nosso coração. Guardar o nosso coração da amargura que contamina a muitos, da falta de perdão, da murmuração, da inveja, da ingratidão entre tantas outras raposinhas que querem destruir a nossa vinha (C NTICOS DOS C NTICOS 2:15).

 

Tenho dado aula para crianças na igreja por muitos e muitos anos, e nas conversas que temos em sala de aula percebo nelas um reflexo daquilo que está no coração dos pais. Uma criança com a qual convivi tinha rancor do pai, pois a mãe sempre reclamava que era infeliz por causa da forma de ser do marido. Outro comentava com frequência como seus pais tinham muito medo de ter que ir embora dos Estados Unidos e voltar para o país de origem, e ele disse que sofria crises de ansiedade por esse motivo.

 

Isso quer dizer que precisamos ser perfeitas para ser boas mães? De maneira alguma!. O que realmente precisamos é estarmos atentas e abertas à condução do Espírito Santo. É Ele quem nos guia, nos orienta e nos mostra, como no meu caso com o criticismo e a falta de contentamento, o que está alojado em nosso coração. Somos vasos nas mãos do Oleiro. Ele, com paciência, misericórdia e amor tem nos ensinado a sermos mulheres que refletem a imagem do Senhor na Terra.

 

Isaías 40:11 traz uma ilustração linda sobre o cuidado que Deus dispensa a cada mãe: “Como pastor, ele alimentará seu rebanho; levará os cordeirinhos nos braços e os carregará junto ao coração; conduzirá ternamente as ovelhas com suas crias”. Outra versão em inglês (New Living Translation) diz “Ele guiará gentilmente a mãe ovelha com seus filhotinhos”. O Senhor sabe da nossa missão. Ele sabe das tantas vezes que nos sentimos inseguras, angustiadas, desanimadas. Mas Ele prometeu guiar mansa e gentilmente, com calma a todas as Suas ovelhas que carregam os seus pequenos. Podemos confiar nesse Pastor, sim, podemos confiar!

 

Maternidade: presente ou fardo?

Fica claro, desde o começo, que a maternidade não é a estação das flores. Aquelas “famílias perfeitas” dos comerciais de margarina ou das fotos de princesas da Inglaterra, saindo da maternidade com vestidos impecáveis, não é a realidade para a maioria de nós, em qualquer parte do planeta.

Maternidade: presente ou fardo?

Fica claro, desde o começo, que a maternidade não é a estação das flores. Aquelas “famílias perfeitas” dos comerciais de margarina ou das fotos de princesas da Inglaterra, saindo da maternidade com vestidos impecáveis, não é a realidade para a maioria de nós, em qualquer parte do planeta.