O livro de Jonas possui características bem marcantes e, uma delas, é o fato de ser um livro bastante controverso. Em primeiro lugar, a narrativa o apresenta como controverso, pois, sendo Jonas um profeta, ele se nega a ir profetizar; e, quando o povo atende à sua mensagem, ele se entristece. Além disso, há vários aspectos do livro que são passíveis de discussão e sobre os quais são formadas diferentes opiniões. Há discussões, por exemplo, em torno do quanto a sua narrativa é literal, ou se é somente uma alegoria.

Diferentemente de alguns livros dentre os Profetas Menores, nos quais precisamos ficar tateando na história para tentar descobrir onde e quando ele apareceu, o livro de Jonas está bem localizado. Logo no início lemos: “A palavra do Senhor veio a Jonas, filho de Amitai” (1:1). O nome de Amitai, pai de Jonas, aparece em outra passagem das Escrituras, a qual nos dá a pista de quando e onde o profeta viveu. Observe: “No décimo quinto ano do reinado de Amazias, filho de Joás, rei de Judá, Jeroboão, filho de Jeoás, rei de Israel, tornou-se rei em Samaria e reinou quarenta e um anos. Ele fez o que o Senhor reprova e não se desviou de nenhum dos pecados que Jeroboão, filho de Nebate, levara Israel a cometer. Foi ele que restabeleceu as fronteiras de Israel desde Lebo-Hamate até o mar da Arabá, conforme a palavra do Senhor, Deus de Israel, anunciada pelo seu servo Jonas, filho de Amitai, profeta de Gate-Héfer” (2Rs 14:23-25).

Podemos afirmar, então, que Jonas é do tempo de Jeroboão II, que veio a reinar em Israel do ano 793 a 753 a.C. Mais do que isso, sabendo em que momento da história ele se situa, também sabemos que ele foi contemporâneo dos profetas Oseias e Amós.

No início desse período, a nação de Israel estava subjugada por uma das nações mais cruéis do mundo antigo. Eles eram um povo vassalo da Assíria que, durante 20 anos, permaneceu sob o poder de Salmanezer III, e depois mais alguns anos sob o comando de seu sucessor, Assur-dan III, que, por não ser tão eficiente, manteve um governo fraco. Era este o cenário, no período entre 760 e 740 a.C., quando Jonas profetizou que a nação se tornaria independente e recuperaria suas fronteiras. Encontramos aqui um homem que vivenciou tanto a situação de um povo subjugado, quanto a recuperação do território, da identidade e da independência nacional. Podemos dizer, então, que Jonas foi um profeta nacionalista.

Outro aspecto em que Jonas difere dos demais livros dos Profetas Menores, é que ele é uma narrativa. Quando lemos outros livros proféticos, encontramos majoritariamente palavras dirigidas ao povo. Em Jonas, no entanto, há apenas uma pequena referência à sua mensagem pregada, mas uma clara narrativa, e consequente descrição, de um profeta protagonista nas mãos de um Deus diretor, que comanda todos os movimentos da cena. Do primeiro ao quarto capítulo, nós encontramos uma narrativa com poucos personagens, o que pode levar muitos a concluírem que Jonas é o ator principal e grande protagonista dessa história. Uma vez que o profeta está bem presente em todos os capítulos, é fácil chegar a essa questionável conclusão.