A mensagem que vem de Deus — Sermões da Bíblia de Spurgeon

Filho do homem, eu o nomeei vigia de Israel. Sempre que receber uma mensagem minha, advirta o povo.
Ezequiel 3.17


Dirijo-me a vocês nesta manhã supondo que todos que são crentes em Cristo estão ansiosos por participar da necessária e diligente tarefa de advertir os homens, para que eles não sejam destruídos. Não posso esperar que seja assim? Parece-me que nada mais há pelo que seja digno viver. Não pode valer a pena permanecer nesta Terra de tristeza e trabalho se não for para glorificar a Deus. Nada além da realização dos Seus propósitos de graça pode compensar nos exilarmos do Céu. Nenhum objeto meramente terreno é digno de um espírito imortal. Se pudéssemos conquistar as Índias — o que é riqueza? Se pudéssemos obrigar a trombeta da fama a se ocupar das nossas façanhas — o que é honra? Nada há debaixo do Sol para o que seja digno um homem levantar a mão, exceto a glória de Deus. E Deus é mais bem glorificado pela conversão dos homens. Vocês acreditam nisso, meus irmãos; portanto, desejam participar, nem que seja apenas para levar uma pobre criança a Cristo. Consequentemente, falo a vocês com confiança, esperando que Deus abençoe as minhas palavras, para que iniciemos uma nova campanha bem estruturada para isso e, assim, obter um sucesso maior que qualquer outro que conquistamos até agora.


Quais são as qualificações para servir a Deus alertando os homens? Ezequiel as tinha. O que podemos aprender das palavras do Senhor a Ezequiel, pelas quais poderemos servir melhor ao nosso Senhor e atuar como atalaias para aqueles que nos rodeiam?
Primeiro, o ouvido a ser disciplinado e segundo, a precisa ser língua a ser treinada. Que o Espírito Santo abençoe todo esse conteúdo para nós.


1. Se quisermos ser considerados realmente úteis e aproveitáveis para o nosso Senhor e Mestre, O OUVIDO DEVE SER DISCIPLINADO. 

Leiam o texto. “Filho do homem, eu o nomeei vigia de Israel. Sempre que receber uma mensagem minha, advirta o povo”. Para treinar a língua, vocês precisam começar pelo ouvido. Sabe-se bem que nenhum homem é apto para comandar se não aprendeu primeiramente a obedecer; seguramente, nenhum homem é qualificado para ensinar se não teve, em primeiro lugar, prazer em aprender. Vocês devem ser discípulos e se sentar aos pés do Mestre antes que possam tornar-se apóstolos e saírem para falar em nome do Mestre. Para adquirir eloquência, precisamos treinar o ouvido e, especialmente para alertar nossos semelhantes, precisamos nós mesmos ouvir a voz que adverte. O texto diz: “Sempre que receber uma mensagem minha”. O que isso significa? Em primeiro lugar, considero que, se quisermos ser úteis, nosso ouvido precisa ser disciplinado a ouvir somente a Palavra de Deus. Precisamos receber o evangelho como a própria Palavra de Deus e avançar para proclamá-la como tal.

 
Se você diz: “Eu desejo divulgar a minha religião porque é a minha própria opinião”? Você jamais conquistará alguém nesses termos. Como pode esperar isso? Se você advertir outro homem de algo que não seja a verdade de Deus, isso de nada servirá para ele, visto que a sua opinião é tão boa quanto a dele e a opinião dele é tão boa quanto a sua, e nenhuma delas tem muito valor. Irmão, você diz: “Eu considero a minha religião como a minha própria visão das coisas”? Ah, então, as suas opiniões sobre as coisas, as minhas opiniões sobre as coisas e as opiniões de todos os demais sobre as coisas valem o mínimo, e não há motivo para criar tumulto sobre elas. Qualquer opinião assinada com o seu nome, ou o meu, poderia muito bem não ser escrita. O que são os nossos nomes? Quais são as nossas opiniões? Não, irmão, se você quiser falar de maneira que afete o coração, a consciência e o destino dos homens, você precisa repetir o que recebeu vindo do próprio Deus como a própria Palavra de Deus. 

 

Há nisso um valor, uma permanência, uma certeza, e ela é transmitida com suprema majestade, trazendo aflição a quem quer que se atreva a rejeitá-la e, assim, ao seu poder. Se é realmente a Palavra de Deus, ai de você se não a transmitir fielmente, e ai dos seus ouvintes se não a receberem com reverência. Então, a primeira coisa a nos lembrarmos, se quisermos ser úteis em advertir homens e salvar almas, é sentirmos a plena convicção e impressão de que o que tentamos ensinar é a própria Palavra de Deus. “Sempre que receber uma mensagem minha”. Precisamos discernir que ela está revestida do manto imperial da autoridade divina. Nós a falaremos, não porque seja a doutrina autorizada pelo credo, nem porque é a doutrina da comunidade à qual pertencemos, mas porque é a verdadeira Palavra do Deus vivo. Aqui há poder — poder que os corações empedernidos são obrigados a sentir, poder diante do qual até mesmo os demônios tremem. Garanto-lhes que, se vocês colocarem a Palavra de Deus entre 50 mil palavras de homens, ela será como um leão entre um rebanho de ovelhas, rasgando-as em pedaços, e provará, por sua própria força natural, de onde vem e para onde vai.


Segundo, se queremos educar o nosso ouvido, não podemos apenas receber a Palavra como autoridade divina, mas saber o que a Palavra de Deus é. Amados, muitos dos que estão dispostos a começar a ganhar almas fariam melhor começando por aprender sobre Cristo. “Vão ao mundo inteiro e anunciem as boas-novas a todos” foi dito a homens que já estavam há algum tempo com Jesus e haviam aprendido sobre Ele. Para outros que viriam a ser chamados, foi providenciado que, após o batismo, eles deveriam ser ensinados para que, no devido tempo, também pudessem instruir as nações. Não gosto que um homem se torne tão aprendiz que nunca deseje falar e ensinar aos outros, mas gosto igualmente pouco de um homem estar tão ansioso para ser um mestre, que corra antes de ser enviado e tente conduzir outros a um Salvador de quem ele quase nada sabe. 

 

Encha-se, irmão, antes de pedir para ser derramado, caso contrário não haverá muito resultado do seu derramamento. Receba o pão e o peixe do Mestre, caso contrário você terá pouquíssimo para distribuir entre a multidão. Antes de tudo, saiba o que você tem a dizer; caso contrário, como poderá falar por Deus? Se um mensageiro corre velozmente, chega sem fôlego ao final de sua jornada e diz: “Eu tenho algo a dizer ao meu senhor, mas não sei o que é”, será ridicularizado por seus esforços. Sua corrida veloz tem pouca importância, visto que ele nada tinha para entregar. Deveria ter esperado até saber as novidades que tinha de levar. Irmão, ouça a palavra que Deus profere e, então, entregue-a em nome de Deus.


O que, então, devemos fazer? Estudemos a Bíblia com diligência. Vão àquela fonte de verdade, eu lhes imploro, e jamais fiquem satisfeitos com uma versão de segunda mão. Vão à fonte e bebam ali, onde os córregos não foram enlameados pela tolice humana. Nós desejamos manter a palavra pura, mas somos conscientes da enfermidade; vão ao poço imaculado, onde não há mistura de erro humano. Busquem no livro inspirado e desejem saber tudo o que ele ensina, pois um pequeno erro pode trazer muito dano ao bom ensino, como uma mosca no pote de unguento. Até mesmo a omissão de uma verdade pode prejudicar demais a utilidade de um homem.

 
Meu caro irmão, se você quiser ser eminentemente útil, permita à sua mente curvar-se às doutrinas das Escrituras. Procure saber tudo que a Bíblia ensina, especialmente sobre os principais temas da salvação, e submeta-se à mente de Cristo em tudo. Deseje dizer aos seus semelhantes apenas o que o Senhor lhe diz, nada mais e nada menos. E esforce-se durante toda a sua vida por seguir a verdade revelada em sua pureza, em vez dos dogmas dos padres ou dos decretos das seitas. 

 

A verdade como é em Jesus, pura e simples como a encontramos na Palavra, deve ser nossa regra e guia. Isso nos ajudará enormemente a sermos bem-sucedidos. Não parece uma observação muito prática, mas é assim. O Espírito Santo dá, primeiramente, a verdade ao nosso entendimento e, depois, a graça para transmiti-la aos outros. Limpem muito bem os seus ouvidos para ouvir a Palavra de Deus como a Palavra de Deus e estejam determinados a saber o que essa Palavra realmente ensinou; dessa maneira, vocês serão instruídos a advertir os homens com a mensagem que procede de Deus.


Chega de entregarmos mensagens de segunda mão. Falem como oráculos de Deus! Repito: para que os nossos ouvidos sejam bem ensinados, precisamos sentir a força da verdade que entregamos. Ezequiel teve de comer o rolo. A verdade precisou entrar nele mesmo antes de ele poder revelar o seu conteúdo ao povo.

 
Portanto, nós precisamos sentir a força e o poder do evangelho antes de podermos apregoá-lo eficazmente. Vocês falarão sobre o mal do pecado? Vocês mesmos conhecem o mal dele? Voltem ao lugar de arrependimento onde, algum dia, molharam a terra com suas lágrimas e conversem com crianças ou pessoas adultas sobre o pecado naquele espírito. Vocês falarão sobre perdão? Conhecem a sua doçura? Vão ao lugar onde viram pela primeira vez o fluir do sangue preciosíssimo e sintam novamente a sua carga de culpa ser removida, então falarão sobre o perdão da maneira mais prazerosa. Vocês falarão sobre o poder do Espírito Santo? Vocês sentiram a Sua influência que desperta, esclarece, reconforta e santifica? Então, conforme o que experimentaram, serão capazes de falar com eficácia. 

 

É um péssimo trabalho pregar um Cristo que vocês nunca conheceram. É terrível falar do pão que nunca provaram, da água viva que nunca beberam e de alegrias que nunca sentiram. O fazendeiro que trabalha precisa ser, primeiramente, um participante dos frutos. Vão para casa e peçam ao Senhor para ensinar-lhes, mas não façam as Suas tarefas antes de sentarem-se aos Seus pés, porque, aos que Ele não ensinou, Deus diz: “O que vocês têm a fazer que devem declarar os meus estatutos? Primeiramente, venham e ouçam a palavra que lhes digo e, depois, transmitam às pessoas as minhas advertências”. Penso ter dito o suficiente para mostrar de que maneira o ouvido deve ser disciplinado.


A LÍNGUA DEVE SER TREINADA. 

Esse é, de fato, o objetivo da disciplina do ouvido. E com que finalidade a língua é treinada? Respondo: Primeiramente, para ser capaz de entregar uma mensagem desagradável. A língua de qualquer homem é rápida em dizer coisas boas, ou pelo menos deveria ser — caso contrário, onde estaria a humanidade? Nós ficamos muito felizes em contar-lhes boas notícias, mas quem deve ser útil precisa estar disposto a falar coisas desagradáveis. 

 

Irmãos e irmãs, quando vocês se encontram com pessoas descuidadas, estão prontos para dizer-lhes verdades que serão desagradáveis para elas? E, quando elas são despertadas, vocês estão dispostos, em nome de Deus, a tentar reduzir a fragmentos os seus refúgios de mentiras, falar-lhes claramente dos erros de que elas tanto gostam e indicar-lhes o único caminho de salvação? Vocês e eu não poderemos ser úteis se quisermos ser doces como mel na boca dos homens. Deus jamais nos abençoará se desejarmos agradar aos homens, a fim de que eles pensem bem de nós. Vocês estão dispostos a lhes dizer aquilo que despedaçará o seu próprio coração ao falarem e o deles ao ouvirem? Se não for assim, vocês não estão aptos a servir ao Senhor. Vocês precisam estar dispostos a ir e falar por Deus, mesmo sendo rejeitados.


A língua precisa ser treinada para o caso de cada um de nós entregar a mensagem como vinda de Deus. Acredito que Deus comissionou todo cristão que conhece a verdade a dizê-la, e que a todo homem que tem a água viva dentro de si mesmo é dada autoridade para deixá-la fluir, pois está escrito: “Rios de água viva brotarão do interior de quem crer em mim”. Vocês veem o seu chamado, irmãos. Nem todos poderão ser chamados para a obra de profetizar como ministros, mas todos vocês são chamados para, por algum meio, advertir os homens da ira vindoura e levá-los a Cristo, e eu quero que sintam que Deus está por trás de vocês quando advertirem pecadores. 

 

Vocês jamais oram por uma alma, nunca choram por uma alma, jamais depositam uma semente da verdade divina em um ouvido humano e nunca pronunciam uma palavra de advertência ou admoestação, mas o que Deus tem a ver com vocês ao fazê-lo? Deus reconhecerá a Sua verdade; portanto, jamais se envergonhem de o fazer. Tornem seu rosto inflexível se o coração deles for inflexível; se eles não se envergonharem de pecar, não tenham vergonha de alertá-los; se não se envergonharem de sua incredulidade, não se envergonhem de sua fé no testemunho divino. As hostes do Céu estão ao seu lado; portanto, não fiquem consternados. A sua fé é capaz de ouvir o tatalar das asas dos seres viventes, o barulho das rodas e o sonido de um grande estrondo, porque todo o Céu se agita quando o vigia se move para advertir o povo (Ezequiel 3.13). Se Deus está por trás de vocês, falem com coragem e não deixem o seu testemunho ser silenciado.


Clamemos a Deus. Vigiemos por oportunidades e, à medida que elas vierem, aproveitemo-las se, por algum meio, pudermos conduzir algumas pessoas à salvação. Já não nos atrevemos mais a dissipar a vida, nos atrevemos? Não nos atrevemos a proporcionar uma continuação da história tola do homem, se de fato é verdade que “o mundo inteiro é um palco e todos os homens e mulheres são meramente atores”. Não acreditamos nessa afirmação e, se isso for verdade, nós a alteraremos. Viremos o palco, arranquemos as máscaras e vivamos verdadeiramente! “A vida é real, a vida é séria”, como saberemos no tribunal de Deus. Quão real ela ficará à luz do último grande dia! Venham, peçamos para ter ouvido e língua treinados, e comecemos agora a servir ao nosso Senhor advertindo os nossos semelhantes.

Bíblia de estudos e sermões de Charles Haddon Spurgeon

A Bíblia de estudos e sermões de Charles Haddon Spurgeon é inédita no mundo! Quando a idealizamos não imaginávamos o desafio que teríamos pela frente. Não foi tarefa fácil selecionar textos entre os mais de 3.000 excelentes sermões de Charles Haddon Spurgeon (1834–92). Traduzi-los de forma a respeitar o estilo do autor e a comunicar claramente com o leitor brasileiro exigiu sensibilidade. Desta forma, essa Bíblia mencionará eventos contemporâneos a Spurgeon e as tecnologias disponíveis em sua época. Apesar de terem sido escritos há mais de um século, as exortações e as consolações conservam uma atualidade impressionante.

Bíblia de estudos e sermões de Charles Haddon Spurgeon​

A Bíblia de estudos e sermões de Charles Haddon Spurgeon é inédita no mundo! Quando a idealizamos não imaginávamos o desafio que teríamos pela frente. Não foi tarefa fácil selecionar textos entre os mais de 3.000 excelentes sermões de Charles Haddon Spurgeon (1834–92). Traduzi-los de forma a respeitar o estilo do autor e a comunicar claramente com o leitor brasileiro exigiu sensibilidade. Desta forma, essa Bíblia mencionará eventos contemporâneos a Spurgeon e as tecnologias disponíveis em sua época. Apesar de terem sido escritos há mais de um século, as exortações e as consolações conservam uma atualidade impressionante.